Universidade Federal do Paraná

  Projeto Rondon - Operação Amazônia Oriental 2007

  Canaã dos Carajás, Pará

 

 

Mensagem aos Rondonistas

                Mensagem do Coordenador Geral do Projeto Rondon aos rondonistas da Operação 2007

 

Diário de trabalho   

A viagem até Canaã dos Carajás

18 de janeiro (quinta-feira)

Saímos de Curitiba exatamente no horário, 10h25, em um vôo comercial da Gol para Brasília. Nossa mala de material de trabalho pesou 72 kg. Ainda bem que hoje muita coisa vai no computador, em CD, pen drive, etc. No vôo, apenas a Mariane (Farmácia) que nem ficava em pé para não ficar mais alta e evitar passar mal. Mas foi uma viagem tranqüila, junto com as equipes da UEL, UTP e FEPAR. OK!, tranqüila em partes... Já no vôo começaram as conversas, as inúmeras fotos e as brincadeiras. Quem não gostou muito foi a equipe de bordo... Em Brasília fomos recebidos no aeroporto pelos oficiais do Exército e acomodados no 32o Batalhão de Artilharia, em alojamento com beliches. Em cada cama havia um cartão de boas vindas do Comandante do Quartel. Em seguida, um bom almoço no cassino dos oficiais, onde tinha uma mesa de snooker. Thiago (Medicina) e Cid (Professor) já gostaram do local e logo depois do almoço começaram a brincar. À tarde um passeio por Brasília - "Ismael (Medicina), bate uma foto..." -, especialmente uma visita pelo Congresso Nacional. Neste local começamos a conhecer o nono rondonista da equipe: a caneca "cancerígena" do Leonardo (Biologia). Chegando ao quartel no final da tarde, jantar e mais snooker. Caiu uma chuva pesada à noite e fomos dormir cedo, quer dizer, quem conseguiu dormir devido o ronco sincronizado no alojamento masculino. Ficamos em um alojamento um tanto apertado, em beliches, com diversas equipes. Um colega da CESUPE (Ilhéus, BA) resolveu testar o beliche e caiu, tendo que ser levado ao hospital para levar pontos na orelha. Selecionamos uma equipe dos mais bravos desbravadores e realizamos uma expedição ao Carrefour, no melhor estilo militar: no escuro e sob chuva. Imagine só: Leonardo, Thiago, Ismael, Leandro (Direito). Enquanto isso no alojamento feminino, havia discussões sobre quem trouxe mais coisas estranhas nas malas, como velas de sete dias, ímã, bússolas, lanternas e absorventes dos mais diversos tipos e tamanhos. A Alessandra (Enfermagem) se perdia nas conversas, parecia que nunca havia participado de discussões com várias meninas falando ao mesmo tempo e a Mariane só ria e tentava entrar na discussão, mas sem sucesso. Ao perceberem que não iriam ter sucesso na competição de quem falava mais, foram acompanhar o Cid (Prof) no snooker, onde jogaram até a chuva passar e os meninos voltarem da sua breve expedição ao Carrefour. Depois de tudo isso, dentro de um quartel e diversos avisos que os sentinelas andam armados, não resta senão irmos aos alojamentos e dormir.

             

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1. Aeroporto Curitiba; 2. No avião; 3. Recepção em Brasília; 4. Aeroporto Brasília, 5. Passeio em Brasília; 6. Snooker no Cassino dos Oficiais; 7. No Congresso Nacional; 8. Alojamento feminino

19 de janeiro

(sexta-feira)

Segundo dia em Brasília. Temos um passeio nesta manhã; apesar da chuva de ontem, o calor continua. Após o café da manhã saímos para o passeio por Brasília, começando pelo Memorial JK, Catedral etc, sendo que na visita a belíssima Catedral, o nosso colega Ismael fez a dança do siri em cima do túnel de entrada para o nosso cinegrafista Léo filmar. Mas não foi só ele que filmou, o cinegrafista profissional do Ministério da Defesa também filmou. No almoço, no quartel, o pessoal preocupado com o fato de que a viagem à tarde seria em avião da FAB, sem lanche, resolveu fazer alguns sanduíches para a viagem. Pediram pão ao soldado garçom e o coitado trouxe pão cortado. Pediram pão inteiro e fizeram quatro belos sanduíches de filé de frango com salada. Almoçamos, arrumamos a bagagem ficamos esperando a saída para Base Aérea quando sairíamos para Marabá, com a decolagem prevista para às 15h45. Logo que colocamos a bagagem no caminhão do exército fomos avisados que houve um atraso na saída do avião do Rio de Janeiro devido à quebra do Hércules que nos levaria, e que deveríamos esperar mais um pouco. Com a espera, mais snooker. Depois, recebemos o aviso que sairíamos as 16h10... nada, mais snooker... depois ficou para as 17h00. Nesta tarde de espera, o Ismael começou a gostar do snooker e não perdeu mais nenhuma partida. Às 17h30 deixamos o Batalhão de Artilharia para a Base Aérea, onde o embarque deveria acontecer antes das 19h00. Chegando lá ficamos sabendo que nossa saída, o mais cedo seria em torno de 20h40. O Capitão responsável reuniu os coordenadores das quatro equipes que estavam esperando o embarque e avisou o atraso. Diante disso o Cid perguntou a ele como seria a alimentação dos estudantes e o Ministério da Defesa, então, organizou a ida de todos a um restaurante no aeroporto de Brasília para o jantar, enquanto aguardávamos o avião da FAB. Em virtude dos atrasos, o dia foi praticamente perdido, pois ficamos na espera do vôo da FAB o dia todo. No entanto, alguns integrantes da equipe aproveitaram esse tempo e conseguiram visitar um pequeno avião que estava na base. Neste momento tiramos muitas fotos e dúvidas com o Tenente Tomazoni que gentilmente nos acompanhou e explicou do funcionamento e função da aeronave. Aos poucos fomos percebendo que perderíamos o jantar e a festa de recepção em Marabá. Em torno de 21 horas embarcamos em um jatinho da FAB, de 50 lugares, o mesmo que levou Fernandinho Beira-Mar para o Presídio Federal no Paraná. O vôo foi muito tranqüilo, com o pessoal da FAB muito solícito e amável, serviram água gelada, mas a Mariane estava muito mais gelada que a água naquela altura. De repente ela pede ao Cid para acompanhá-la até a cabine, depois de receber convite do comandante para visitar a cabine. Foi lá e descobriu a atura e a velocidade do jatinho. Ficou mais gelada ainda e voltou bem devagar para o seu lugar. Chegando em Marabá fomos recebido pelos oficiais do Exército, incluindo o Cel. Fonseca, Coordenador da Operação de todas as equipes que ficam na base de Marabá. Também ficamos conhecendo nosso anjo, Primeiro Tenente Helder. Anjo é o nome que o Exército deu ao Oficial que acompanhará as equipe nas suas cidades de atuação. Do aeroporto fomos direto, em ônibus fretado, para o Clube dos Sub-tenentes e Sargentos, onde uma grande festa de abertura, com um jantar excelente nos esperava. Lá estavam todas as quarenta equipes de diversas universidades cuja base era Marabá e todos os oficiais militares, desde o Gen. Bini e o Gen. Krause, coordenadores do Projeto Rondon. Fomos recebidos com aplausos e gritos de SELVA!!! Tinha muita comida, refrigerantes, sucos diversos e até cerveja, além do arrasta pé ao som de forró e música local. Foi uma bela confraternização. De lá, cerca de quase uma hora da manhã, fomos ao 23o Batalhão de Infantaria da Selva onde ficaríamos hospedados. Alojamento masculino, alojamento feminino e soldados na porta para evitar que qualquer um de sexo diferente resolvesse "trocar" de alojamento. No alojamento masculino, deveria ter uns trezentos marmanjos e no feminino não era diferente. Cada um tinha que procurar a etiqueta com seu nome nas camas e verificar o número da cama, o qual era equivalente ao número do armário. Muito bem organizado, assim como as atividades que nos esperariam no dia seguinte.

             

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1. Passeio Brasília; 2. No ônibus; 3. Memorial JK ; 4. Memorial JK, 5. Mariane e Ismael no avião... parado; 6. Embarcando no jato da FAB; 7. Mariane a 12 km de altura; 8. Recepção em Marabá

20 de janeiro

(sábado)

Fomos dormir mais ou menos 2 horas da manhã ontem e teríamos que acordar hoje às 6 horas, para o café da manhã às 6h30. Lorena (Pedagogia) e a Mariane, esqueceram que estavam em horário novo (não há horário de verão no Pará, logo 1 hora mais cedo) e levantaram aproximadamente 5 horas da manhã. Tomaram um banho de água fria (única opção) e tiveram a feliz idéia de perguntar as horas para a Tenente Talita, quando ela disse "ainda está cedo, são 5h30min" (Ten Talita, 2007). Lorena e Mariane, lavadas e penteadas olhando uma para a outra, ficaram esperando e esperando a hora do café chegar enquanto todos dormiam! No alojamento masculino, nenhum estresse, simplesmente todos foram acordando devagar, arrumando as coisas e se dirigindo para o café da manhã, bem farto, por sinal. Como chegamos ao quartel de madrugada nosso primeiro contato com as demais instalações que não os alojamentos foi na alvorada. Descobrimos, com grande interesse, que existia um pequeno zoo no local e mais, incrível, que vários animais ficavam soltos no quartel. O que, com certeza, mais chamou atenção foi o pequeno Chico, um macaco prego muito fanfarrão. Encontramos também um macaco Guaíba, doado pelo Ibama ao exército; sem entrar em detalhes sórdidos, ele era o terror das coelhinhas... ficou conhecido como "O Lenhador" (título de um filme muito "papo brabo" trazido pela Mariane) ...  Percebemos que a vida turística que tínhamos no Quartel em Brasília tinha acabado; em Marabá entramos mais a fundo na linha do exército, com treinamentos e obrigações. Depois do café, fomos nos ônibus fretados para outra unidade militar onde ocorreu uma Formatura preparada para os Rondonistas. Mas não formatura no sentido de ganhar diploma, e sim no sentido de ficar em forma, sob um sol escaldante, vestidos com coturno, calça comprida e jaqueta inteira fechada, mochila pesada nas costas, fuzil no ombro! Tinha um canhão puxado por um búfalo albino (obus, como me corrigiu o Thiago, com uma cara de quem queria estar sofrendo no sol como os soldados). Interessante quando eles começaram a cantar: não havia nenhuma aparelhagem de som, mas o som que ouvíamos dos soldados, mesmo naquela praça aberta, era como se em cada um tivesse um microfone embutido. Foi uma solenidade interessante para a maioria de nós que não conhecia a vida militar e o Thiago, que estudou no Colégio Militar de Curitiba pode reviver e cantar a Hino do Soldado. De lá fomos para a solenidade de Abertura da Operação em um auditório na Secretaria de Saúde de Marabá. Muitos discursos, mais lanche... mais discursos e enfim, estava aberto a Operação Nacional do Projeto Rondon 2007. Voltamos para o almoço na organização militar, excelente mais uma vez. Sentou à nossa mesa o Gen. Krause, Coordenador Geral do Projeto Rondon no Ministério da Defesa, com quem pudemos conversar. Logo após o almoço, fomos fazer um treinamento no que restou de floresta amazônica em Marabá, numa pequena reserva do exército. Nesse local, entramos mata adentro e tivemos variadas atividades, desde treinamento de sobrevivência no caso de frutas e folhas comestíveis, fogo e água até reconhecimento de cobras e orientação com bússola. Após esse treinamento, nos deram um bom lanche e na seqüência nos dirigimos novamente até os alojamentos a fim de tomarmos nossos banhos e jantarmos. Fomos, depois do jantar, conhecer a cidade, mas  apenas uma parte de nós (os meninos, o Cid e mais a Mariane – no caso, seu lado homem, o então denominado "Armando") com as outras equipes, de ônibus, até a Cidade Velha de Marabá, a fim de conhecer um pouco mais a cultura da cidade. A Lorena e a Alessandra não foram, pois devido a um problema no banheiro feminino no cano (um grande vazamento em um dos canos que abastece alguns alojamentos do quartel), fez com que acabasse a água daquele alojamento, sendo que ambas tiveram que tomar banho no alojamento dos oficiais, atrasando-se. Assim, elas ficaram descansando e conversando no quarto. Os que foram tiveram uma experiência diferente, isto é, sentar em um bar que serve na rua... é, na rua mesmo... não é na calçada... e coitado do Leonardo que ficou com as costas voltadas para os carros. Interessante comer com barulho e fumaça de carros ao lado... Como no dia seguinte viajaríamos para nossa cidade de atuação resolvemos agendar nosso retorno no ônibus para as 23h00, sob o protesto de alguns colegas de outras equipes que queria que o ônibus voltasse mais tarde. Às 23h00 em ponto estávamos lá, entrando no ônibus para voltar ao quartel... conosco veio uma chuva muito forte, também às 23h00 e mais um grande grupo de rondonistas que não queriam ficar nos bares na rua e na chuva. A viagem de retorno ao quartel foi um momento de descanso para todos, como o Ismael que babou no assento do ônibus e a Mariane, que dormia enquanto uma rondonista do Mato Grosso do Sul conversava com ela.

             

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1. Chico; 2. No palanque; 3. Formatura; 4. Equipe na Sec. Saúde em Marabá, 5. Adaptação à selva; 6. Adaptação à selva; 7. Adaptação à selva; 8. Ismael, sem diploma, com nosso anjo

21 de janeiro (domingo)

As meninas foram acordadas sutilmente logo pela manhã, as 5h45, pela Tenente Talita, que era responsável pela organização do alojamento feminino; já no alojamento masculino, quase teve apito... Novamente tivemos um belo café da manhã e esperamos um pouco o nosso ônibus, o qual se atrasou. Seguimos em ônibus fretado pelo Exercito até Canaã dos Carajás, com uma parada antes em Curionópolis onde ficaram duas equipes (UnB e FEMUC). Na seqüência seguimos para Canaã dos Carajás (a terra prometida). Foi uma viagem bastante tranqüila, na qual praticamente todos os rondonistas da UFPR tiveram alguns momentos de cochilos. Em todo o tempo acompanhados pelas viaturas militares e os oficiais que acompanham as equipes, nossos anjos. Ao chegar em Canaã, fomos recebidos pelo Carlos Magno (assessor de comunicação do Município) que nos levou ao hotel onde ficaríamos hospedados (Hotel Lancaster). Os quartos foram então divididos da seguinte maneira: Ismael e Leandro; Leonardo e Thiago ficaram juntos em apartamentos duplos; Mariane, Lorena e Alessandra ficaram em um quarto maior e Cid ficou em um outro quarto sozinho, o qual é praticamente uma guarita de vigia - o primeiro quarto da entrada do hotel e no alto (2o andar). A equipe de Ilhéus se dividiu em outros três quartos. O Ten. Helder ficou em um outro quarto sozinho, o Sargento Leandro e o Soldado Santos em outro quarto. Pelo tamanho do quarto das meninas, decidiu-se que lá que haveriam algumas reuniões. Neste mesmo dia, desarrumamos nossas malas, demos uma volta pela cidade, conversamos no início da noite fizemos uma revisão em nosso material, projeções para as aulas e sobre nosso planejamento para o dia seguinte e, ao final, um grupo se reuniu tentando assistir um filme.

               

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1. Embarcando a bagagem para Canaã dos Carajás; 2. Saída do quartel; 3. No onibus, em viagem; 4. Chegada em Canaã , 5. Chega em Canaã; 6. Almoço; 7. Hotel onde estamos hospedados

22 de janeiro (segunda-feira)

Todos foram acordados logo cedo (5h50) pelo Cid para fazer uma caminhada na praça da cidade. No entanto, apenas foram com o Cid o Tenente, o Soldado e o Nivaldo, da equipe de Ilhéus. Na seqüência, cada um foi acordando e foi tomando seu café no refeitório do hotel. Por volta das 8h30, as duas equipes (UFPR e Ilhéus), se dirigiram até a Prefeitura do Município, a fim de apresentarem-se ao Prefeito e demais autoridades. No entanto, fomos abordados em frente a Câmara Municipal, sendo convidados para um Culto. Ficamos, então, sabendo que todas as segundas-feiras pela manhã acontecem cultos na Prefeitura. Neste evento fomos apresentados ao Prefeito Ribita e também estavam presentes no Plenário Sebastião Bruno Ferreira, entre outras autoridades, o Secretário de Educação (Osiel), o Secretário Municipal de Planejamento (Henrique), a Lúcia, da Secretaria de Assistência Social e Paulo Serra, do jornal da cidade. Nessa mesma oportunidade assistimos uma Premiação de algumas maquetes referentes a criação da Praça da Bíblia, no centro da cidade. Após isso nos dirigimos até a Escola Tancredo Neves, onde haveria a abertura da Semana Pedagógica. Nessa oportunidade, fomos muito bem recebidos tanto pelos professores, como também pelas demais pessoas ali presentes, inclusive o Prefeito Ribita. Houve uma apresentação de um grupo de dança local, formado por alunos da rede municipal de ensino. Entre algumas danças, estavam a do Carimbó, na qual, os rondonistas (Leandro, Lorena, Mariane, Thiago, Ismael e Alessandra) foram convidados para dançar juntamente com os integrantes do grupo de dança. Nesse momento, novamente, nosso “garoto prodígio”, Leandro, nos surpreendeu mostrando-se um grande capoeirista e dançarino de Carimbó, recebendo inclusive alguns elogios de moradores da localidade. Todos dançaram (ao menos tentaram), mas sem sombras de dúvidas o destaque ficou para os grandes dançarinos Leandro e Lorena, os quais permaneceram na roda do início até o final. Leonardo ficou com sua filmadora registrando tudo, sendo que a Mariane, o Thiago, Ismael e a Alessandra só ficaram o suficiente na roda, apenas para não dizer que não participaram, dando um fiasco. Após o momento da dança, algumas pessoas tiverem a oportunidade de falar na abertura da Semana Pedagógica, entre elas o Prof Cid, o qual falou excelentemente bem, iniciando a sua fala explicando sobre o Projeto Rondon (suas características e seus objetivos), apresentando a UFPR (também suas características, quantidade de alunos, cursos etc), falou sobre o modo que foi feita a seleção dos rondonistas, apresentando-os e expondo os assuntos que serão trabalhados com os professores. A cerimônia terminou cerca de 12 horas e fomos almoçar. Após o almoço, nos dividimos em grupos: um da saúde composto por Ismael, Thiago, Alessandra e Mariane, e outro da educação, com o Prof Cid responsável pelo início das atividades na escola com a parte de ensino de matemática, o Leonardo na seqüência com a Feira de Ciências, e a Lorena e o Leandro ficaram como grupo de apoio ajudando a sub-equipe da escola. Neste evento da tarde falamos para cerca de setenta professores de 5ª a 8ª séries, tanto da área urbana como rural. Paralelamente a isso, Ismael, Thiago, Mariane e Alessandra, juntamente com o Sargento e com o Soldado, foram de carro, na Secretaria de Saúde para conversar com a Enfermeira Florice (Coordenadora da Atenção Básica da cidade), que não se encontrava na Secretaria pois estava substituindo outra enfermeira (que estava de licença saúde) em uma Unidade de Saúde (US). Todos seguiram até a US onde estava Florice e essa conversou conosco, nos apresentando para os demais funcionários da US, bem como nos levando para conhecer a mesma. Na seqüência, ela nos acompanhou às outras três US do município, nos apresentando para todos os funcionários. A peregrinação pela cidade em busca das US, só foi possível pela agilidade e competência do Soldado Santos e do Sargento Leandro, que nos conduziram em sua caminhonete. Vale ressaltar que nos sentimos muito bem recebidos pela Equipe de Saúde do Município, principalmente pelas enfermeiras. Também outro fato notório, foi que pudemos observar a cumplicidade e união entre as enfermeiras das US, bem como o bom trabalho que juntamente elas estão fazendo para essa região. Aproveitamos e combinamos com Florice para fazermos algumas visitas com os ACS nas US Novo Horizonte e Maranhenses. Após essas visitas, seguimos novamente até o hotel. A noite ocorreu um imprevisto, uma menina da outra equipe (Rosa) e o soldado Santos tiveram uma crise hipertensiva e necessitaram do atendimento médico do Ismael e do Thiago. Estávamos no restaurante comentando sobre a pressão do soldado e, de repente, chega o Tenente correndo chamando o soldado para ir levar a moça para o Hospital. Saíram correndo o soldado e o tenente e atrás dele, Thiago e Ismael para levaram os dois adoentados para o hospital da cidade; foram medicados e logo se encontravam bem. Cid aderiu a caneca "cancerígena" do Leonardo. Comprou uma e amarrou na mochila. Após toda essa corrida do dia, fomos para a Casa do Professor onde adotamos como ponto de reuniões, pois tem água gelada, ar condicionado e mesa grande. Essa foi nossa primeira reunião de avaliação dos trabalhos do dia e faremos isso todos os dias. Cada um falou das suas impressões sobre a cidade e o trabalho realizado, o que nos levou a concluir que esse primeiro dia de trabalho foi positivo. Antes de irmos à reunião, o pessoal resolveu arrumar as coisas para levar para a Casa do Professor e o Cid foi colocar sua mochila na cama da Mariane quando percebeu que na sua caneca tinha algo... foi ver e ela o limão da coca-cola tomada na janta. Pelo jeito ele está aprendendo bem com o Leonardo e em breve sua caneca fica "cancerígena".

         

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1. Culto na Prefeitura; 2. Nossos anjos; 3. Abertura Semana Pedagógica; 4. Professores, 5. Leandro no Carimbó; 6. Na Escola Tancredo Neves; 7. Iniciando o trabalho; 8. Cid e sua caneca

23/jan (terça-feira)

Levantamos muito cedo, apesar de termos ido dormir tarde ontem. Cid bateu nos quartos às 5h45. A Lorena, Leandro e o Cid foram caminhar na praça. O Leandro quase ficou por lá, sentado em um meio-fio, depois de tentar acompanhar na corrida, primeiro o Tenente, no seu pique e, depois, o Sargento. Mas o fato é que depois do exercício todos chegaram morrendo de fome... regime! que nada! O Thiago e a Mariane foram cedo (7h30) na US do bairro Maranhense fazer visitas domiciliares com as Agentes de Saúde. A Mariane ficou deslumbrada com a Comunidade. São pessoas humildes que batalham muito para sobreviver, para conseguirem melhorar suas condições e qualidade de vida. A caminhada da Mariane levou a manhã inteira (oh menina para conversar), ela foi com a Agente Eliete de casa em casa (foram mais ou menos cinco casas) com o mais variado tipo de gente. Em uma das casas ela conseguiu trocar sua caneca grande por uma média, foi com uma senhora idosa, índia, mãe de dezesseis filhos e que vive numa casa onde tem em seu quintal tudo quanto é tipo de frutas (cupuaçu, maracujá, manga, côco, laranja, acerola etc) sem falar da grande horta, com pimentas das mais diversas cores, tomates e cenouras. Ficou um privilegiado tempo lá, e adivinhem o que ela tomou.... água! Outra visita interessante foi na casa de uma senhora idosa, que tem obesidade mórbida. Ficou conhecendo a família inteira desta senhora, tentou verificar sua pressão arterial no aparelhinho pequeno da US (apesar de ter falado que não dava!), talvez seja por isso que a pressão dela sempre dá elevadíssima, conforme a ACS!! Já Thiago saiu em visita com a agente Derliene, muito simpática e comunicativa. Visitaram quatro famílias, cada qual com sua singularidade. O encontro com a família da pequena Dalva, que estava com a carteira de vacinação vencida, foi o mais impressionante. Sua mãe havia fugido de casa há 12 dias, deixando pra trás namorado, filha, irmão, e toda uma família aturdida. A última notícia que se tem da jovem mãe de 15 anos é que ela agora se encontra numa cidade próxima trabalhando numa casa de prostituição. Detalhe: dois dias antes de fugir, sua irmã de 17 anos fugiu com a nova namorada (isso mesmo, artigo feminino), sem antes protagonizar um encontro com polícia, gritaria e tudo o mais alguns dias antes. As visitas foram muito enriquecedoras, pôde-se perceber o quanto as famílias carecem de orientação e informação sobre suas doenças. O que nós achamos que é uma informação básica, que passa na televisão toda hora, para eles é um bicho indecifrável; bastaria um pouco de conhecimento e paciência para suprir pelo menos um pouco do que anseiam (que por sinal já seria o suficiente). A ACS que acompanhou a Mariane, merece um destaque especial, pois é notável a sua amizade com os seus "pacientes". Todos, sem exceção, dos que visitamos compartilham com ela os problemas de suas vidas (desde amor até trabalho!). Acreditamos que uma boa relação entre US e Comunidade só é estabelecida quando há confiança entre eles, e isso pode ser percebido entre a agente Eliete e seus pacientes. Na escola, onde ocorre a Semana Pedagógica, Leonardo falou sobre Feira de Ciências para dois grupos de cerca de 50 professores cada, de 1a. a 4a. séries, revezando com a Lorena no seu trabalho sobre Inclusão Social. No trabalho com a educação especial, fomos surpreendidos pela atuação e entusiasmo dos alunos/professores que fizeram todas as atividades pedidas, além de participarem ativamente das discussões que tinha como objetivo levar os professores a refletirem sobre a infra-estrutura da escola no atendimento crianças normais. Temos que ressaltar a alegria da coordenadora Kátia que se sentiu realmente útil, orientando os professores no tema da qual tem habilitação e nunca teve oportunidade no município de trabalhar nessa área. Leandro e Cid foram visitar o Conselho Tutelar e acertar o horário de trabalho para a semana que vem e buscar informações em preparação para o trabalho que será feito em conjunto com o PETI e os professores. O Ismael teve a gentileza de ir visitar a moça de Ilhéus e o soldado e medir a pressão deles e ver se tudo estava bem. Mais tarde, no almoço, o pessoal de Ilhéus nos agradeceu a atenção dos meninos da medicina. A Alessandra aproveitou a manhã para lavar roupa e corrigir parte de suas apresentações, junto com o Ismael na Casa do Professor. A Casa do Professor é uma casa alugada pela prefeitura onde é disponibilizado ao professor acesso à internet através de cinco computadores, aparelhos de multimídia, uma sala de reuniões e uma pequena biblioteca com cerca de 2000 volumes, além de facilidades como água gelada (aqui isso é muito importante...) cozinha etc. Uma idéia fantástica que deveria ser seguida por diversas prefeituras. Quando íamos jantar (estávamos atravessando a rua, na frente da churrascaria) ocorre um acidente envolvendo um caminhão e uma moto com um casal. É importante ressaltar que os motociclistas estavam somente com os capacetes colocados e não presos, assim, quando o caminhão bateu neles, os capacetes foram arremessados longe. A nossa equipe foi muito rápido para o local, fazer a segurança e os primeiros socorros, já que a moça havia se machucado (uma possível fratura no braço, além de ter batido a cabeça.). Acostumados com o que ocorre em Curitiba, em que a população já conhece a rotina do atendimento hospitalar e evita se aglomerar em torno da paciente, Thiago e Ismael ficaram impressionados com o tumulto que surgiu. Nessa hora os outros rondonistas improvisaram um isolamento humano, o que contribuiu para um melhor atendimento. O garupa, primo da vítima e que não havia sofrido um arranhão, ficava insistindo rispidamente que não era necessário nenhum atendimento, e que bastava colocá-la numa moto e rumasse para o hospital do jeito que ela estava. Detalhe: acidente auto-moto lateral, com vítima ejetada, sem capacete, possível trauma cranioencefálico, fraturas de membros superiores e inferiores. Neste momento, percebemos o quanto a equipe de saúde não está preparada para atendimentos de emergência, pois não encontramos a tábua rígida muito menos o colar cervical...Improvisamos com uma tábua (Sim! Dessa mesma tábua que você deve estar pensando e que estava na carroceria do caminhão que bateu na moto) e o Thiago foi segurando o pescoço da mais nova paciente, acompanhado do Ismael na ambulância. Após realizar toda rotina ATLS, e como a ambulância chegou sem tábua, fizemos uma gambiarra e conseguimos colocá-la na maca, mantendo a estabilidade cervical por todo o caminho. Chegando ao hospital, encaminhamos a paciente para a sala de reanimação, e ficamos surpreendidos com o exame médico realizado: "Mexe a mão assim, minha filha. Ah, tá tudo bem, pode sentar" (!!!!!) Ficamos de certa forma decepcionados, mas como por nossa avaliação estava tudo bem, saímos de lá e fomos nos reunir ao restante do grupo. Depois do jantar, Leandro, Leonardo e Cid foram jogar xadrez na praça, onde tem um professor de xadrez que leva os tabuleiros para ensinar à população a prática deste esporte. É muito interessante ver o povo interessado e jogando. Normalmente ele leva cerca de seis tabuleiros e ontem, teve que ir buscar mais de tanta gente que tinha. Depois do xadrez fomos fazer nossa reunião de avaliação e preparação para a quarta-feira, onde o Leandro nos informou que o Conselho Tutelar parece ser bastante ativo, que conhece bem sua função que é a de divulgar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Os meninos confirmaram que entraram em um bar e viram na parece uma cópia do ECA e avisos sobre a proibição da venda de bebidas e jogos para crianças e adolescentes. Isso fez com que tivéssemos que mudar nossa estratégia de ação para o dia seguinte em relação ao trabalho do Leandro e toda a equipe foi mobilizada para trabalhar nos grupos que serão formados para essa atividade na escola no período da tarde. O Leonardo foi elogiado por todos pela sua atuação na aula de Feira de Ciências à tarde para os professores de 5a. a 8a. séries, pela qualidade do material apresentado. Depois da reunião, alguns foram dormir e outros ainda ficaram estudando ou conversando até tarde da noite. Um detalhe... hoje outros da equipe também aderiram ao lema da caneca do Leonardo, lembrando que não se lava a caneca em hipótese alguma; no máximo uma "agüinha". Falta convencer a Lorena e a Alessandra.

       Video Ciências                   1                                     2                                   3                                  4                                      5                                  6                                     7                                   8

1. PSF; 2. Mariane em visita domiciliar; 3. Leo na aula de Ciências 4. Leo em aula de Ciências, 5. Resultado da reciclagem; 6. Acidente à noite; 7. Xadrez na praça; 8. Video Foguete Tabajara 2

 

24/jan (quarta-feira)

Hoje a Mariane se juntou aos corajosos da caminhada matinal e todos voltaram mais "suados" que os outros dias. No meio do caminho veio uma chuva fininha, que engrossou e todos resolveram seguir o percurso e voltaram para o hotel encharcados. Ismael e Alessandra foram fazer visitas com os ACS. Ambos rondonistas tiveram a oportunidade de ver vários casos diferentes, desde Chagas até hanseníase, dentre outros e puderam ajudar um pouco a comunidade visitada. Cid e Leonardo foram para a escola para dar cursos de matemática e ciências respectivamente, fazendo a "dobradinha", pois o grupo de professores é muito grande, consequentemente, tivemos que dividir em dois grupos. A Lorena, seguindo o bom exemplo da Alessandra, foi lavar roupa, basicamente os calçados que havíamos usado no treinamento na selva... Já a Mariane foi trabalhar nas suas apresentações e na lista de presença para fazer os certificados. Leandro foi preparar mais informações para o curso de Conselho Tutelar que trabalhamos à tarde com os professores. No almoço ficamos na escola onde foi servida uma galinhada aos professores da Semana Pedagógica. Com o anúncio da galinhada apareceu mais "bicões" do que o esperado e quando chegamos na fila só tinha sobrado arroz branco... sentiram o cheirinho da galinhada só a Lorena, Cid e Thiago... com o Ismael atacando o prato do Thiago. Os outros tiveram que ir ao restaurante mesmo. Depois do almoço (com exceção do Leonardo que teve que preparar mais experiências para o seu curso de feira de ciências) toda a equipe foi trabalhar o tema já citado do Leandro, com os professores de 5a. a 8a. séries. A dinâmica foi a seguinte: o Leandro fez uma breve explanação sobre o papel dos conselheiros tutelares, em seguida dividimos o grupo em três sub-grupos, o qual foi assumido por dois monitores: Mariane e Ismael; Alessandra e Leandro; e Lorena e Thiago. Nestes grupos foi discutida a importância do Conselho Tutelar na Escola, Estatuto da Criança e do Adolescente, fatos ocorridos na cidade - casos de abuso infantil, violência. Este momento foi muito importante para o grupo todo, pois conhecemos melhor a comunidade local, para atender as expectativas dos professores. Infelizmente, percebemos também que a falta de conhecimento do ECA pelos professores gera receio e insegurança por parte deles em abordar o tema, sendo que os mesmos demonstraram não saber como agir no momento de defender os direitos das crianças e dos adolescentes. O mais impressionante foi a desenvoltura da equipe diante dos grupos de professores. Cada dupla ficou com um grupo, estes coordenaram uma discussão sobre um assunto desconhecido para a maioria: o Conselho Tutelar na Escola. Segundo a Mariane, no começo foi um choque, pois como abordar um assunto sem conhecimento suficiente para isso? Mas com o desenrolar da conversa tudo foi se encaixando a partir do que nos treinamentos já havíamos ouvido pelo Leandro e Alessandra e todos os temas puderam ser abordados. O que seria um bicho de sete cabeças tornou-se uma reunião aplaudida. Foi um belo trabalho, mostrando que a estratégia adotada ontem foi correta e pudemos adaptar o trabalho para a semana que vem. Um fato interessante: em função do atendimento ao acidente ocorrido ontem, os policiais militares da cidade, especialmente o pessoal ligado ao trânsito, pediu aos alunos da medicina se eles poderiam dar um curso de primeiros socorros, pois notaram que estavam despreparados para atender acidentes como naquela situação. Dessa forma, e por eles estarem preparados para isso, concordaram em ministrar mais esse curso na cidade. Todos de banho tomado foram à churrascaria de sempre para o jantar, mas depois de algum debate, resolvemos ir comer em uma pizzaria. Foi quase duas horas para ser decidido qual a pizza... mas afinal chegaram a um acordo. As três pizzas escolhidas, no final, se mostraram com o mesmo sabor... Depois da pizza, nos reunimos para a avaliação do dia.
25/jan (quinta-feira)

O dia iniciou cedo, 5h45 o Prof Cid mais uma vez se revela um pontual despertador. Os guerreiros de sempre foram caminhar e correr, mas como sempre, ninguém do quarto 2 (Thiago Brian e Léo) teve disposição para tal esforço. Enquanto um grupo caminhava/corria, o grupo da saúde se reuniu no quarto das meninas para finalizar as apresentações do dia de hoje sobre o tema sexualidade. Como zumbis, bravamente adentraram na escola. O Thiago estava nervoso e a Mariane vestiu a camiseta de "Armandão" (no bom sentido da gozação) e levaram alegremente as oficinas com os professores de 1a. a 4a. séries. Quando nos propusemos a vir pelo Projeto Rondon a uma cidade isolada estávamos preparados para tudo, com a faca nos dentes mesmo. Até hoje estávamos surpreendidos com as facilidades que tínhamos encontrado: fanfarras e festas nos quartéis, uma cidade razoavelmente bem organizada e calma, e o trabalho correndo a contento. Mas mal sabíamos que isso estava por mudar. Enquanto terminávamos nossas atividades da manhã, chegou a notícia que estava ocorrendo um assalto no Banco do Brasil, que havia tiroteio e que ninguém saísse da escola. Estávamos lá em sete; faltava o Léo. A Lorena resolveu avisar o tenente, que ficou desesperado para saber do paradeiro dele. Cid tentava ligar para todos os lugares onde ele poderia ter ido (prefeitura, Casa do Professor ou estar no próprio hotel) e... nada. Quando o relógio marcava 10 horas da manhã e o pessoal da área de saúde estava na labuta no colégio, o Léo estava ainda no hotel recuperando-se de três dias de esforço intensivo com suas oficinas de ciências e tinha aproveitado o dia mais livre com um merecido sono até mais tarde. Foi então que, de repente, ele começou a ouvir uma gritaria e tiros para todo lado. Nosso hotel fica bem atrás da agência do Banco do Brasil, a qual estava sendo assaltada. Ainda com os olhos marejados de sono, Léo se levantou e cogitou assistir o evento mais de perto. O barulho era surreal: mulheres gritando, crianças chorando, cachorros latindo e o "vuco-vuco" da multidão; faltava somente o padre Quevedo exorcizando. E tudo isso permeado de tiros, pipocos e estampidos de todo calibre e qualidade. "Devo estar variando de sono ainda" pensou o Léo, se dirigindo à casa de força, digo, ao banheiro anexo ao quarto. Enquanto a água gelada desproposital caia (o chuveiro não fica nem próximo do morno, fato agravado com a atitude de Thiago de deixar o ar condicionado na posição Pólo Norte). Os tiros continuavam a espocar, fazendo um eco que tornava o "vuco-vuco" (os cachorros latindo, as crianças chorando e as mulheres gritando) ainda mais indecifráveis. "Ou está acontecendo uma guerra ou um grande arranca-rabo, inclusive com queima de fogos", pensou o Léo. Como o Iraque fica a milhares de quilômetros de Canaã dos Carajás a idéia de uma grande briga de marido e mulher não era de todo improvável. Como tinha sido acordado nas horas críticas do dia que se localizam entre o café da manhã e o almoço, resolveu subir ao quarto do "Gigante Barbudo" (Prof Cid) pegar a filmadora e realizar umas imagens da confusão para o relatório em vídeo do Projeto. Acontece que o dito quarto oferece uma das melhores visões da confusão, mas também fornece praticamente um estande de tiro ao laranjinha bocó no parapeito do hotel. Só quando Seu Osvaldo, o dono do hotel, saiu de uma salinha de vidro fumê, que faz ás vezes de sala de estar, cozinha, copa e anexo da cozinha com os olhos arregalado e branco de medo avisando que estava rolando um assalto e que uma bala perdida podia encontrar alguém também perdido. Estava realmente acontecendo um faroeste em Canaã dos Carajás. E isso tudo acontecendo na casa de trás do hotel, que era aonde se localiza o Banco do Brasil, que como citado anteriormente, estava sendo assaltado, colado com a parede do quarto 2. De repente estavam umas quinze pessoas deitadas no chão da salinha fumê, com a mão sobre a cabeça para não levar uma bala perdida. As mulheres rezavam, as crianças choravam e a comida queimava no fogão da cozinha em anexo. Vez ou outra os tiros davam uma trégua e o pessoal ensaiava ir ao local verificar como estava o vuco-vuco, apenas para retornar correndo quando as rajadas recomeçavam (agora a Mari me expulsa do computador -ela está tomando muito café, acho -, depois continuo). Logo depois o Prof. Cid consegue ligar ao hotel confirmado que o Leo estava lá, praticamente se divertindo com tudo o que estava acontecendo. Nossa saida da escola em direção ao hotel também foi cinematográfica. O zelo que os militares estão tendo por nós é impressionante. O Tenente deixou o Sargento o tempo todo na porta da escola sem deixar ninguém entrar ou sair, com o revólver na mão, em sentinela. Do outro lado, ficava o soldado Santos, cuidando do outro lado da escola, por cima da escola, no telhado. Lá ainda estavam os cerca de duzentos professores com quem estávamos trabalhando. Quando chegou pelo rádio que os assaltantes haviam deixado a cidade (com alguns reféns), o Tenente ficou na frente da viatura do Exército, o soldado pronto no volante e o Sargento na parte de trás, armado e atento a qualquer coisa esperando nossa entrada no carro. Quando todos estavam dentro, o sargento pulou na carroceria (fechada) e fomos em apenas alguns segundos da escola até o hotel. No hotel o tenente reuniu os dois grupos e nos autorizou a tirar a camiseta laranja, e tudo mais (como os chapéis, a mochila, os crachás, etc) que nos identificasse como "visitantes" da cidade, ou melhor, como rondonistas, pois esses acessórios chamavam bastante atenção na cidade e nesse momento era preciso evitar nossa exposição. Assim que chegamos ao hotel, alguns de nós foram até o restaurante buscar comida e almoçamos no hotel. A tarde, depois da confusão toda do assalto, foi difícil restabelecer a concentração para ministrar a oficina com os professores de 5a. a 8a. séries. A turma era grande, mais ou menos cinquenta professores que olhavam para a Mari, Thi, Isma e Ale com olhar de curiosos, esperando o que iria acontecer. Nós nos entreolhamos e a Mari respirou fundo, e ministrou a palestra. O desenrolar da palestra foi excelente, a dinâmica desenvolvida foi muito bem aceita, a Ale deu um show na parte de anticoncepção (ficou mais vermelha do que a cortina quando falou "saco"!!!) e o Thiago fechou a tarde de palestras mostrando o Brian (nome carinhoso do pênis de borracha) para a professoras que se mostraram interessadíssimas com a explicação de como colocar um preservativo. Com o atraso para iniciar, o tempo para as palestras ficou prejudicado, principalmente a do Thiago sobre as DST. Mas mesmo assim, com o tempo estourado, os professores se mantiveram no pátio além do tempo para ouvir o que o Thi tinha a falar, e participaram com muito interesse, curiosidade e excitação. Valeu a pena todas as noites que passamos acordados preparando as aulas, pois o retorno dos professores foi fabuloso. A noite, em nossa reunião, na avaliação do dia, vale destacar a frase do Thiago: "No Rondon, você pode fazer a diferença".

   

26/jan (sexta-feira) Com a alvorada (5h45), chegou o trabalho. A tradicional caminhada contou com dois ilustres convidados: os fanfarrões do quarto 2, Thiago e Leonardo, além dos veteranos Cid, Lorena, Nivaldo e os militares. O resultado da "orgia gastronômica" de até então se fez valer, deixando Thiago com dores musculares até domingo. Após o café da manhã a divisão do pessoal foi grande, deixando o tenente maluco. Enquanto Ismael, Lorena e Alessandra se preparavam para as aulas na escola, Thiago foi acertar detalhes do curso de primeiros socorros e Mariane foi bater perna novamente com a enfermeira Patrícia, desta vez acompanhando as visitas domiciliares em outra área da cidade, no Bairro Novo Brasil. Leandro e Leonardo, a dupla, como não sabe para onde foram provavelmente estavam cantado em algum boteco, enquanto nosso amigo gigante barbudo (Cid) passou por todos os lugares, culminando numa entrevista na rádio local. Na verdade, Leandro foi até o Centro de Treinamento buscar informações sobre o Projeto Pedagógico do PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), onde iremos trabalhar na próxima semana. Paralelamente a isso, Leonardo foi buscar na Prefeitura informações sobre os professores (a fim de que pudéssemos preparar os certificados), enquanto que o Cid tinha logo cedo marcado uma conversa com o Carlos Magno, assessor de comunicação da Prefeitura, para acertar os detalhes da sua entrevista na rádio ao meio-dia. No meio da manhã, Cid e Leonardo se encontraram com a Mara na escola e se dirigiram para a Secretaria de Assistência Social para acertar os detalhes do trabalho da próxima semana. Quando lá chegaram, a secretária não estava, mas quando chegou, trouxe consigo o Leandro, pois ele havia encontrado-a no Centro de Treinamento. Acertados os locais, o coffe-break e outros detalhes, tomamos uma boa água (aqui água é fundamental, principalmente a gelada...) e agradecemos a gentileza com que a secretária e as coordenadoras nos receberam e voltamos para a escola. O Cid foi para a prefeitura aguardar Carlos Magno para irem juntos para a rádio. Nessa conversa, conseguimos um programa diário numa rádio local a partir de segunda-feira, como também uma entrevista com dois estudantes na mesma rádio que o Cid deu entrevista. Pela manhã, na escola, último dia da Semana Pedagógica, muitos foram convocados a tentar tirar uma foto do Ismael ministrando sua aula sobre drogas... mas nenhum obteve êxito. Só se registravam borrões, pois o pequenino garoto simplesmente não para quieto, fazendo jus à citação de hiperativo! Na próxima vez vamos regular a câmera para a posição "esporte", assim quem sabe conseguimos alguma coisa mais nítida do que apenas manchas... Nosso almoço foi baião-de-dois, na escola mesmo, o qual estava muito bom. Aliás, cabe aqui um registro do carinho com que fomos tratados nesta semana pela equipe de alimentação da escola liderada pela nutricionista Andréa. A tarde continuamos nossa programação, iniciando o trabalho dos Agentes Mirins e aula sobre drogas pelo Ismael, agora para os professores de 5a. a 8a. séries, que teve que ser mais corrido em função da cerimônia de encerramento que começaria às 16h00. Mas não antes do Leo fazer algumas artimanhas com camisinha que estoura e as que não estouram, além de uma corrida com os professores para ver quem colocava mais rápido uma camisinha no Brian. O campeão foi um professor, mas foi desclassificado porque abriu a embalagem com a boca. Isso para mostrar que não se deve fazer isso com pressa, pois pode dar errado. A "corrida-atrividade", então, acabou se mostrando eficaz. No fim da tarde correu a cerimônia que marcou o fim da Semana Pedagógica e o fim dos nossos trabalhos com os professores nesta viagem. O mestre de cerimônias foi o Leonardo, sempre ovacionado e festejado quando chamava alguma professora à frente para a entrega dos diplomas de participação. Uma hora o Leonardo ficou tão empolgado com o beijo das professoras que esquecer de entregar o certificado. Mas nosso amigo gigante não ficou para trás, pois fez ainda mais sucesso quando foi convocado para entregar um diploma. Sabe como é, "não existe homem grande assim aqui no Pará (sic)", sendo que conseguiu arrancar vários assovios das professoras. A noite chegou e no jantar, em pleno restaurante, se iniciou a cantoria, a fanfarra na churrascaria. Rimas chechelentas, e ninguém ficou de fora... ninguém mais agüenta, as brincadeiras sem demora. Segue a música do tenente: "Tenente pequenino, um cara engraçado, parece com o Van Damme, mas é muito estressado". Depois do jantar, Mariane e Thiago deram uma surra no snooker no Ismael e Cid, com a companhia da Alessandra. Lorena, Leonardo e Leandro foram dormir mais cedo, afinal, não havia reunião hoje, um descanso merecido aos rondonistas pela semana agitada e produtiva.
27/jan (sábado)

Como havíamos combinado antes, hoje o dia começou bem cedo, apesar de sábado. Cid nos acordou às 5h15 da manhã, pois o hotel iria servir café das 5h30 às 6h00 e EXATAMENTE às 6h00 sairíamos para a Vila de Mozartinópolis, cerca de 70 km daqui, em estrada de chão. Essa vila é mais conhecida por Racha Placa, pois em um conflito com a Companhia Vale do Rio Doce, que colocou uma placa na vila proibindo caça, pesca etc, em suas propriedades gerando uma revolta da população. Um dia a placa amanheceu toda espedaçada e desde então o local é conhecido por Racha Placa. Mais tarde, para resolver o conflito, a Vale enviou um engenheiro chamado Mozart que ganhou a amizade da população e dai o nome atual de Mozartinópolis. Voltando ao relato do dia, é claro que acordamos cedo e estávamos todos prontos às 6h00, mas o ônibus não apareceu. Chegou meia hora depois. Um ônibus velho mas agüentou bem a viagem, apesar dos buracos e solavancos. Num deles, o Thiago havia levantado para apanhar um Todinho... eles tomam todinho... e teve sua primeira experiência de voar. Num desses buracos que o ônibus passou, o solavanco foi tão forte que ele voou alto e empacotou no meio do corredor. Felizmente não aconteceu nada além de um esfolão na perna. Chegamos em Mozartinópolis cerca de 8h30 e fomos direto para a escola. Arrumamos nosso material, pois a idéia seria passar algumas informações de caráter preventivo sobre DST/AIDS, sexualidade e hanseníase, mas acabou nada disso acontecendo. Os poucos da Vila que apareceram para as atividades foram para uma aula sobre turismo na região ministrada pelo professor da equipe de Ilhéus e nós ficamos vendo filmes com as crianças. No almoço, fomos à casa do Prof. Jaime, um veterano da educação, 68 anos, ex-diretor daquela escola. No entanto, o Prof. Jaime teve que ficar em Canaã para uma reunião e acabamos sendo recebidos pela sua esposa, Nalva e seus filhos. Comemos uma galinha caipira e umas "pelotas" de carne - assim como ela nos disse o nome do prato -, macarrão, arroz etc. Uma delícia, comida caseira que estávamos necessitando a essa altura do tempo que estamos em Canaã. Depois do almoço ainda passamos na casa da Rosa onde comemos pão de queijo, o melhor de Canaã, e biscoito de polvilho com café preto. Um pão de queijo bem amarelo, feito com ovo caipira. As panelas das casas onde estivemos brilhavam tanto, todas "ariadissimas", e a Mariane não perdeu tempo de pedir para que a Rosa lhe ensinasse como deixar sua caneca daquele jeito. Claro, a Rosa pegou a caneca dela e ariou também, deixando-a brilhante. De volta à escola, arrumamos nosso material e fomos para uma fazenda onde teria um rio para nadar e serviria de base para quem não fosse escalar a trilha para chegar a Cachoeira. Na fazenda só ficaram o Thiago e Cid e os outros foram pulando na carroceria da camionete do Exército para o local. Enquanto isso, Cid viu que tinha lá um fruto de uma árvore que se faz cuias (Coité) e eles ficaram ouvindo as histórias do assalto enquanto limpavam os frutos para fazer as cuias. A senhora da fazenda em que estávamos e sua filha foram reféns dos assaltantes no evento aqui de quinta-feira. De repente, chega o carro do Exército de novo, com os meninos dentro, frustrados, pois o tenente achou que as equipes correriam risco subindo a trilha (perigosa) e não os deixou ir. Cid e Thiago pelo menos se sentiram recompensados, pois foram mais úteis preparando as cuias, uma para cada um, para levarem de lembrança do Pará. De volta ao ônibus e retorno à Canaã com um silêncio quase total pois a maioria tentou tirar um cochilo. Quando chegamos ao hotel encontramos o Coronel comandante do 23o. Batalhão de Selva de Marabá acompanhado pelo Major, os quais vieram visitar nosso trabalho. Fomos jantar, todas as equipes, e nós com nossas canecas. Ainda falta convencer a Lorena e a Alessandra, mas falta pouco. Para ajudar na decisão delas, os meninos resolveram ensinar que a "aguinha" que se usa para lavar a caneca deve ser bebida depois.... Depois do jantar, Thiago, Mariane, Ismael, Cid e o Major foram jogar snooker no bar ao lado do hotel, enquanto os outros foram dormir, cansados pelo dia improdutivo. Na volta Cid acertou com o dono do hotel de servir o café da manhã mais tarde amanhã, uma vez que é domingo e praticamente ficaríamos sem atividade.

           

28/jan (domingo)

Hoje, domingo, todos acordaram tarde, sendo que o quarto das meninas bateu o maior recorde: acordaram por volta das 11:00! No entanto, enquanto o grupo dormia, Thiago e Ismael sairam cedo para preparar seu curso de primeiros socorros. compromisso assumido com o pessoal do batalhão de trânsito e conforme a necessidade apontada por eles. Mas acordaram cedo, tomaram café correndo, mas levaram um "bolo", pois ninguém apareceu para apanhá-los. O acesso à internet no Depto de Trânsito é via celular e hoje este estava bloqueado em função do assalto e eles não sabiam que não teria conecção. Aliás, esquecemos de dizer antes, depois do assalto, vários dias a comunicação local está sendo bloqueada para evitar comunicação dos assaltantes e com isso nosso acesso à internet fica restrito e não conseguimos atualizar todos os dias nosso diário. Resolveram, então, ir à Casa do Professor para usar a internet e conseguiram preparar as suas aulas lá. Ao meio-dia, Léo e Leandro resolveram (e se empenharam arduamente) fazer um churrasco para a equipe, mas foram interrompidos pela equipe de filmagem da TV da UnB, que veio fazer um documentário sobre a atuação rondonistas de algumas cidades. Depois das entrevistas e filmagens a equipe a UnB foi embora logo após o almoço (14h) mas Léo e Leandro ainda insistiam no churrasco e não permitiram que o restante da equipe fosse para o almoço. O processo de conseguir picanha foi particularmente complicado uma vez que não existe frigorífico no município, e, desse modo, a carne deveria ter sido encomendada na sexta-feira, fato que obviamente os dois não sabiam. Depois de perambular por todos os mercados e açougues da cidade, sem exagero, foram conseguir a carne no lugar mais lógico, mas também o mais inesperado: a churrascaria da cidade onde fazemos refeições. E não é que a picanha e o mignon que nunca apareciam no buffet do restaurante podiam ser compradas cruas? Para surpresa de todos! O lado bom é que custou R$ 6,50 o quilo! Finalmente depois de pelejar por quase três horas sob um sol escaldante, como Tuaregues no deserto, os dois tinham conseguido quase seis quilos de picanha e mignon, compradas sobre a supervisão do grande churrasqueiro Cid. Nesse intervalo outro problema apareceu: o mercado aonde iriam comprar carvão havia fechado. Quase com lágrimas nos olhos (e com a carne na mão...) nossos heróis saíram na caça desse que era o único item indispensável para o churrasco além da carne, logicamente. De bar em bar, de mercearia em mercearia eles percorreram ruas de terra e vielas estreitas até encontrarem, totalmente sem querer, um saco de carvão com um goiano radicado em Canaã. Conseguido o carvão (o sal grosso foi ganho, pois a esposa do senhor ficou com dó dos empenhados churrasqueiros), faltava ainda a churrasqueira, que foi construída com o máximo de rigor matemático possível para um futuro biólogo e um futuro advogado, mas que no final se mostrou eficiente, apesar de toda dificuldade do Cid em acender o fogo, mesmo com os fabulosos conselhos do tenente: parece que nessa hora todo mundo vira churrasqueiro experiente.  Cerca de 4h depois, a carne, enfim, é posta para assar. Pediram autorização para o dono do hotel e arrumaram faca, tábua de carne, mesa, tijolos para a churrasqueira, espetos, sal e até limão para uma caipirinha comprada também com muito esforço, que não foi tomada (culpa da "boca-do-cid"). Mas com o sol já não estava tanto a pino, conseguimos fazer o carvão pegar fogo, preparar a carne - filet mignon e picanha - e fumaça para todo lado. A equipe "verde de fome" aguardava ansiosa pela carne dura que estava por vir. No entanto, primeiro saiu o filet bem macio, que comemos com pão, cebola assada, quase às 17h00. No início da noite, os presbiterianos Ismael, Alessandra e Cid foram para a igreja, Thiago e Lorena foram fazer caminhada na praça, enquanto os outros saboreavam a picanha que foi assada como costela para ver se ficava mais macia. A carne aqui parece ser meio dura... Depois, tomamos o delicioso sorvete crocante, providenciado pelos organizadores do churrasco, ainda andamos um pouco na praça e fomos dormir. Enquanto o Cid estava no seu quarto preparando a página para ser publicada na internet na segunda, Thiago, Ismael, Leonardo, Leandro e Mariane foram até lá fazer uma visita e organizar o programa da rádio para amanhã. Logo depois chegaram Lorena e Alessandra, ficando a equipe toda, meio de pijama, conversando e trabalhando. O Leandro, que decidiu passar o dia de short e sem camisa estava quase congelando com o ar condicionado ligado, também na posição Pólo Norte ("estou como um monge budista: transpirando testosterona" - sic). Assim, termina esse relato por hoje, pois amanhã o dia promete muito, com novas atividades, agora com o pessoal da área da saúde e da cidadania.

29/jan (segunda-feira)

Desde ontem já sabíamos que hoje seria um dia cheio de trabalho. Acordamos cedo, quer dizer, Ismael, Lorena e Cid mais cedo para caminhar e correr. Mas logo após o café da manhã Lorena saiu cedo para o início dos trabalhos com os instrutores do PETI e o restante da equipe foi para a Rádio Estúdio 101 para nosso primeiro programa na rádio. Chegamos meia hora antes e fomos recebidos pelo dono da rádio, o Cleverson, um rapaz de Foz do Iguaçu, que nos deixou à vontade e nos apresentou o Ilton, que nos ensinou como trabalhar com os botões, sons etc. O Leonardo fez o papel de técnico e sonoplasta e o condutor-locutor do programa foi o Leandro, carinhosamente apelidado pelos colegas de "Leandro-voz-de-veludo", aquele que mata a cobra e mostra... as horas.  O programa foi uma experiência nova para todos, iniciando com uma entrevista com o Cid que falou sobre o Projeto Rondon, mas o tema deste programa foi hanseníase, o assunto que seria abordado mais tarde pelo Thiago e Ismael para os profissionais da área de saúde. Foi feita entrevista com o Thiago sobre o tema e com o Nivaldo, colega nosso da equipe de Ilhéus que falou da sua atividade com micro-empresários. Da Estúdio 101, um grupo foi para o Centro de Treinamento e Mariane, Leonardo, Alessandra e Cid foram para a Rádio Cidade para uma entrevista em um programa jovem. Na Rádio Cidade conhecemos o dono, Antonio Jesus, que nos recebeu muito bem, mostrou as instalações novas e nos recebeu com bolacha e cafezinho. Também tivemos uma "palhinha" dele de locutor, com a voz totalmente modelada conforme o programa que faz. Bem interessante. Também passou dicas importantes para o Leonardo, que se já estava empolgado antes, agora pretende chegar em Curitiba e agilizar uma rádio para o Centro Acadêmico dos Estudantes de Biologia da UFPR. Logo o Tenente foi nos apanhar, já que a rádio é longe do centro da cidade e deixou a Alessandra e Mariane na Secretaria de Saúde para procurarem material para seus trabalhos que começaria à tarde. Leonardo ficou na busca de carro de som, projeção etc. para podermos passar um filme na praça na terça-feira e, apesar de não conseguir resolver tudo, visto que fizeram o favor de cortar ao meio a tela da TV local que seria disponibilizada para o Cinema na Praça. Conseguiu também com a sempre solícita e empenhada Alessandra, da Secretaria de Meio Ambiente, uma lata de tinta, uma trena de 50 metros e pincéis para fazer a marcação da pista de caminhada da cidade, enquanto Thiago e Ismael estavam preparando seu curso de primeiros socorros para o Departamento Municipal de Trânsito. A Lorena foi cedo, logo depois do café para o Centro de Treinamento iniciar o trabalho com os instrutores do PETI. Logo após o almoço fomos para o Centro de Treinamento, onde começava nossos trabalhos com o pessoal de saúde. Lorena e Leandro foram até o Conselho Tutelar conversar com os conselheiros para poder fazer um diagnóstico do trabalho realizado no município e ver no que poderíamos ajudar no trabalho deles, melhorando a integração do conselho com os professores, trabalhadores da área da saúde e a comunidade em geral. Insistimos na importância de que cada professor deveria dispor de uma cópia do ECA e informamos aos conselheiros que havíamos solicitado tal atitude do Secretário de Educação do Município, Prof. Oziel Pereira, trabalho que foi feito na semana anterior com os professores. Em torno de 16h00 nos dirigimos para o Centro de Treinamento com toda a tralha (computador, projetor, publicações etc.) para o trabalho com os ACS e Técnicos de enfermagem. Foi interessante ver as moças e rapazes chegando no centro, vestidas de branco, a maioria de bicicleta, para a aula do Thiago e Ismael sobre hanseníase. O auditório encheu, com cerca de cem pessoas, onde nossos estudantes tiveram um desempenho muito bom, ao mesmo tempo em que aprenderam muito pelo fato desta região ser hiper-endêmica dessa doença. Esse auditório está sem ar-condicionado e não tem ventilação, assim o calor dentro estava insuportável. Mesmo assim, ninguém reclamou e todos ficaram lá atentos ao que estava sendo ministrado. A cidade só tem mais um auditório além deste, que é o da Prefeitura, mas estava sendo ocupado pela equipe de Ilhéus. A enfermeira Florice, da Secretaria de Saúde, falou com o Prof. Cid se não seria possível um outro local e ele sugeriu então o Plenário da Câmara Municipal. Com dois telefonemas a Florice resolveu o problema, marcando as reuniões do dia seguinte para a Câmara, já que não haveria sessão no horário que precisávamos. Terminado o trabalho com o pessoal técnico, às 19h começou o trabalho, sobre o mesmo tema, com o pessoal de nível superior, incluindo médicos e enfermeiras. Nessa parte, Thiago e Ismael se aprofundaram no tema, falando desde o diagnóstico ao tratamento da hanseníase passando inclusive pela imunologia. Terminou tarde este trabalho, ninguém foi embora mesmo como o calor insuportável na sala, mas continuou com uma conversa bastante agradável com os médicos e enfermeiras. Fomos direto para nosso jantar, tomar banho, descansar um pouco e ainda fazer reunião para acertar o trabalho para o dia seguinte.

         

30/jan (terça-feira)

De novo, 5h45, o Cid saiu batendo em todos os quartos chamando para a caminhada matinal. Desta vez, só a Lorena foi a corajosa e acompanhou o Cid e o Tenente. O dia parecia mais escuro que os outros, bastante nublado, e parecia que choveria. Antes mesmo do café, Alessandra e Mariane foram para a Casa do Professor onde conversariam com os professores de Ciências do Município, os quais ficariam responsáveis pela continuidade do Projeto Agentes Mirins. Só que compareceram apenas dois professores, Prof. Jaime e Edvaldo e, no final, quase 9h30, uma outra professora que justificou o atraso. Depois do café, Thiago e Ismael foram com o pessoal do trânsito para seu curso de primeiros socorros. Lá, não só os policiais e o pessoal do Departamento Municipal de Trânsito, como também participaram os motoristas de ambulância do DMTC, técnicos de enfermagem, ACS e outras pessoas da comunidade. Estava lá a enfermeira Florice que gostou tanto do curso que pediu para os meninos darem aula também para os alunos do Curso Técnico de Enfermagem. Os dois, solícitos, aceitaram, mas não avaliaram o volume de atividades que estávamos tendo. Leandro e Cid foram para o treinamento dos instrutores do PETI, onde o Leandro iria falar sobre a interação com o Conselho Tutelar. Foi um trabalho bem legal, o Leandro soube fazer uma interação bem grande com nossos interlocutores aliado à sua capacidade de organizar bem o assunto facilitando bastante o trabalho. Enquanto isso, Lorena e Leonardo foram para o programa da rádio, o qual hoje foi um desastre. O pouco tempo que tiveram para organizar o programa da rádio, que é ao vivo, mostrou que a improvisação aliados à inexperiência com esse tipo de atividade não dá certo mesmo. Depois do programa a Lorena foi dar uma mão para o Leandro com os instrutores do PETI e o Leonardo foi a Prefeitura cuidar das projeções para a noite, que ainda estavam muito enroladas, motivo pelo qual o pessoal de Ilhéus desistiu de apresentar os vídeos na praça. Almoçamos todos juntos, meio tarde, quase 13h00, e tivemos pouco tempo para descansar. Às 14h00 já estávamos na Câmara Municipal arrumando os equipamentos e esperando os ACS e técnicos de enfermagem do município, além de pessoas da comunidade interessadas sobre o tema do dia, que foi sobre drogas (Ismael) e abuso infantil (Alessandra). O Ismael teve que dar duas aulas, pois um grupo avisou que não poderia vir no primeiro horário e ele teve que repetir sua aula das 17h00 às 19h00. Na segunda aula estava tão cansado que quase dormiu falando, com o "farol baixo". Na verdade, acho que estamos dormindo pouco e cheio de atividades e isso está deixando toda a equipe cansada. Entre as duas palestras do Isma a Ale tratou do tema abuso infantil, demonstrando os sinais e sintomas que os ACS e Técnicos devem atentar. No meio dessa palestra a Ale fez uma dinâmica para que o grupo encenasse sobre alguns tipos de violência na Infância, nesse momento o Adielzinho (Raimundo, o Branco da SAAE) deu um espetáculo mostrando-se um verdadeiro ator ao tratar o abuso sexual. Vale ressaltar que o Adielzinho estava lá apenas para levar e cuidar do projetor, mas acabou participando atentamente de tudo. Também, outro espetáculo da tarde foi da Mariane e do Ismael que encenaram o trecho do filme O Lenhador, que é colocado durante essa palestra. A Mariane tornou-se cobaia, pois ela foi a responsável pela pane no sistema elétrico da Câmara (ela desligou a energia na tentativa de amenizar o barulho provocado pelo ar condicionado). Coitada, ela só tentou ajudar!! Em outro local, Lorena e Leandro trabalhavam com os conselheiros do Conselho Tutelar, tirando dúvidas sobre legislação e sobre o ECA, enquanto que a Mariane e o Thiago conferiam as folhas de presença da Semana Pedagógica para que fossem preparados os certificados que trouxemos da Pró-reitoria de Extensão e Cultura da UFPR. Na saída da Câmara já avistamos na Praça da Bíblia o Leonardo com o carro de som, tela e arrumando os projetores para o filme que começaria às 20h00. Interessante foram as chamadas realizadas pelo Leandro, conclamando a população para assistir ao filme; com seu jeito inconfundível e sua voz de veludo, quase estilhaçou todas as janelas do centro da cidade, sem perceber o tamanho das caixas de som e que o carro de som estava com o volume no máximo e Leandro utilizava toda sua empolgação na divulgação. Por pouco não aconteceu uma tragédia, mas ainda assim foi uma cena impagável! Escolhemos para passar o filme "Diários de Motocicleta", por ter uma parte que fala sobre hanseníase. Nossa intenção era de colocar ainda no início e no intervalo filmes educativos sobre hanseníase, mas teríamos que usar os arquivos do computador. Infelizmente, não conseguimos fazer nosso laptop conversar com a Veraneio cheia de fios e auto-falantes, do nosso amigo Cleverson, dono da rádio onde estamos fazendo nosso programa diário. Além disso, os dois aparelhos de dvd não colaboraram e simplesmente não passaram os filmes que seriam usados nos intervalos, e que tomaram toda uma tarde de trabalho do Leonardo. Mas, apesar dos imprevistos a população compareceu, não choveu e pudemos assistir ao filme. Quando começou o filme, o Leonardo resolveu comprar um "tacacá", comida típica aqui do Pará, que só é vendida na rua. Um tipo de sopa com ervas e goma de mandioca e que vem com um palito para você pescar um único camarão que vem junto - a propósito, de onde será que vem o camarão aqui para o "tacacá" de Canaã se não tem mar nem rio aqui perto? -. Ao final, Alessandra e Ismael distribuíram fôlderes sobre hanseníase e conversaram com os presentes. Também, já marcamos que na quinta-feira teríamos outra sessão e assim temos dois dias para fazer o laptop do Cid conversar através dos fios com a Veraneio do Cleverson. Depois do filme, ainda fomos para fazer nossa reunião diária, onde percebemos que estávamos bem cansados com as tarefas do dia, mas era necessário para acertarmos os pontos para o dia seguinte. Na reunião, Cid fez uma avaliação dos trabalhos do dia e diversas críticas sobre o trabalho da rádio. Escolhemos que para quinta-feira deveríamos passar um filme tipo comédia-romântica e acertamos a agenda do dia seguinte. Depois da reunião, cama para todos, pois a quarta-feira também prometia e o cansaço já está batendo à porta de todos.

   

31/jan (quarta-feira)

Hoje o dia amanheceu com neblina e, mais uma vez, só a Lorena foi andar com o Cid, o Tenente e o Sargento. No café-da-manhã tivemos vina (para a alegria da Alessandra) e logo cedo, Thiago e Ismael foram para o Departamento de Trânsito no último dia de curso de Primeiros Socorros. Mariane e Cid foram para o Centro de Treinamento onde hoje, além dos instrutores, contamos com a presença dos conselheiros do Conselho Tutelar, uma vez que o tema seria sexualidade, que foi abordado pela Mari tanto para o Conselho Tutelar quanto para os Instrutores do PETI. Leonardo-DJ, Leandro-voz-de-veludo e Alessandra foram para a rádio, onde o tema do nosso programa de hoje seria "Gravidez na Adolescência não é brincadeira", com um trabalho interativo, de perguntas feitas pelo Leandro e respostas pela Alessandra. Hoje o programa foi excelente, parece que estamos aprendendo. Mais uma vez Leandro deu um show à parte, inclusive inventando ligações "mandrakes", para deleite de todos os presentes na rádio, inclusive os militares. A Ale, na primazia da sua profissão, também mostrou dominar o assunto, até parecia mãe de pelo menos oito filhos, de tanto conhecimento e sabedoria sobre o assunto. Depois do programa da rádio, Lorena, Leandro e Alessandra foram para o Centro de Treinamento, Cid pegou carona e foi para o Depto de Trânsito acompanhar o trabalho do Ismael e Thiago, e o Leonardo foi visitar o lixão e o sistema de abastecimento de água, ficando extremamente assustado com o que viu; há muito tempo ele não via uma cena tão feia quanto a do lixão da cidade. Até o reservatório de água estava tomado de bois, que certamente usavam o local para beber água. No retorno do Depto de trânsito, Cid pediu para os meninos irem almoçar mais cedo e depois dar um cochilo, pois todos os quatro da área da saúde estavam visivelmente cansados. Enquanto isso, Leonardo e Lorena ficaram verificando as presenças nos cursos da semana passada (da semana pedagógica) até que Cid chegou intimando para que todos almoçassem mais cedo para dar tempo de um descanso; entretanto, o Leonardo passou por problemas gastro-intestinais (o tacacá da noite anterior fez muito bem a sua memória, pois se fazia lembrar de tempos em tempos) e permaneceu "descansando". Na hora do "descanso", todos discutiram as atuações que os palestrantes tiveram em sua manhã. Mais uma vez, Thiago e Isma elogiaram a dedicação e o esforço dos integrantes do DMTC, pois todos participaram com grande interesse, questionando e contribuindo com relatos de acontecimentos diários, o que dá satisfação pelo trabalho realizado. Mariane relatou que, apesar da sua impressão inicial do PETI e Conselho Tutelar, foi uma rica oficina. Todos participaram intensamente das brincadeiras e dinâmicas ministradas por ela. Indagou que o tema "sexo" ainda é um tabu para muitos adultos, e relataram sobre a dificuldade de se trabalhar este tema com a comunidade escolar, como os pais. Ao término da oficina (2h30min depois), Mariane ainda elogiou a integração de todos e ressaltou da importância da união entre o PETI e o Conselho Tutelar. Após, Mariane e Alessandra foram para a Câmara trabalhar sexualidade com os ACS e técnicos de enfermagem (alunos e profissionais das US). O trabalho realizado foi totalmente direcionado aos profissionais das US (apesar de ter sido convidada a comunidade em geral). Como cada público tem a sua peculiaridade, toda palestra sobre Sexualidade é diferente uma da outra. A equipe se questiona toda vez que apresenta esse assunto: "para que fizemos apresentações em Powerpoint?", pois ele NUNCA foi usado na íntegra. Apesar disso, todas as palestras são muito elogiadas, bem como que se repitam. A Mariane dá um show com sua desinibição, principalmente quando conta com a presença marcante do Brian (nono integrante da equipe). Ele é muito requisitado por todas as mulheres, as quais ficam eufóricas com a sua presença. A única coisa que a Mariane faz é brincar com o Brian para que sua aula se torne um sucesso em qualquer lugar, tornado assim o tema "sexualidade" um tema acessível a todos. Paralelamente a isso, Leonardo utilizou todo o conhecimento acumulado em anos de viagem de mochilão e conseguiu uma carona de moto até o "mirante" da cidade para fazer filmagens para o documentário que está realizando. Enfim, ele havia conseguido um momento em meio a natureza sem estresse. Esse momento terminou abruptamente com uma chuva torrencial; parece que o "inverno" (época chuvosa da região) finalmente está começando. Quando ele retornou, encontrou as meninas da saúde (Ale e Mari), com ar de zumbis, dando palestras na Câmara Municipal e se dirigiu ao hotel aonde Lorena ainda trabalhava nas listas de presença. Agora todo o quarto 2 estava empenhado no processo, o que não impedia Leonardo de ficar contando piadas com Thiago, que a essa altura tinha desistido de dormir e estava ajudando a aporrinhar a loira da equipe. Como recompensa à paciência de nossa polaca, Leonardo foi ao mercado e comprou uma caixa de bombom após muito esforço (teve que ajudar a descarregar um caminhão de compras para finalmente conseguir os benditos chocolates que havia prometido), que foram avidamente devorados por Thiago, que é chocólatra assumido, enquanto proferia um verdadeiro tratado sobre o assunto para os boquiabertos Leonardo e Lorena. Ao final de 2 ou 3 horas e muitas risadas o processo estava finalizado, assim como a caixa de chocolates. Ao final da tarde, todos estavam na Câmara Municipal acompanhando as aulas de Primeiros Socorros (Thiago e Isma), agora para os alunos Técnicos de enfermagem e ACS. Os alunos, embora aparentemente cansados, mostraram-se bastante participativos pois a aula da Mari e da Ale, os deixaram com excitação de sobra para mais 3 h de oficinas. Na aula do Ismael, o show ficou por conta do Leandro que foi modelo para os exemplos que ele dava, fazendo todos rirem e participarem da aula. Interessante foi o relato da Enfermeira Florice que no dia de hoje atendeu dois casos na Unidade de Saúde de pessoas que foram lá pedir para ver se suas manchas na pele não era hanseníase. Isso porque assistiram ao filme na praça ontem e tinham conversado com o Ismael e Alessandra quando estes distribuíam material na praça. Depois, fomos todos ao nosso jantar, na mesma churrascaria de todo dia, convidados pelo Cid. Lá combinamos que iríamos para a Casa do Professor para podermos preencher todos os certificados dos cursos da Semana Pedagógica e tomar sorvete, que fazia parte do jantar oferecido pelo Cid. Ficamos até quase meia-noite preenchendo certificados, com os olhos fechando. Alguns aproveitaram que a internet estava mais rápida e verificaram seus e-mail, orkut, salvar fotos em CD etc. Depois de acertarmos o programa na rádio do dia seguinte e as escalas de trabalho, voltamos para o hotel a fim de repousar por mais um dia de trabalho árduo.

 

1o/fev (quinta-feira)

Hoje não teve caminhada nem corrida. Desde umas 5h00 da manhã começou a chover forte em Canaã e atrapalhou os madrugadores. Aliás, ajudou, pois todos puderam dormir um pouco mais, ao som da chuva que durou toda manhã. Thiago, Mariane e Cid saíram antes de todos para preparar a sala no Centro de Treinamento para o trabalho de hoje com os Agentes Mirins. Cid deixou os dois no Centro e voltou ao Hotel para levar na prefeitura nossa roupa suja para lavar. Leandro, Leonardo e Ismael deram mais um show na rádio, com direito até ao abraço para o nosso coordenador, que consequentemente fez mil elogios aos radialistas. Mas claro que ele teria alguma crítica... o tema de hoje foi Conselho Tutelar e abuso de drogas. O Leandro fez peripécias sendo ele mesmo o locutor e o entrevistado, com aquelas perguntas feitas pelo público. Depois mudou o tema para drogas e o Ismael respondeu algumas perguntas sobre os efeitos maléficos da maconha e foram para outra música. Enquanto a música tocava, o Leonardo percebeu que a letra fazia uma certa apologia às drogas e imediatamente cortaram a música pela metade. Alessandra foi "convocar" o pequeno Adielzinho (vulgo Raimundo) da SAAE, para emprestar o projetor. Adielzinho tem se tornado, nesses dias, mais um novo "integrante" da nossa equipe, pois vêm apresentando um excelente desempenho, não somente como profissional (por ser atencioso e cuidadoso), mas nas suas "tiradas", deixando até mesmo o Ismael envergonhado. Depois de algum tempo, demoramos para conseguir um dvd emprestado, pois o aparelho da Lorena não resistiu ao caminho suave de Mozartinópolis no sábado passado. Alessandra e Lorena tentaram trabalhar sobre abuso infantil com o PETI e Conselho Tutelar, pois foram sobrecarregadas de causos e fatos ocorridos na cidade. Depois Ismael também tentou conversar sobre drogas, mas o grupo estava precisando mesmo era "desabafar". Depois de passar o filme "O Lenhador" quatro vezes. O Leandro, na hora do almoço, reuniu os conselheiros do Conselho Tutelar e passou a eles todo o material que trouxe. Mari e Thiago passaram a manhã preparando os agentes mirins. Após o almoço, Leonardo pôde dar o curso sobre reciclagem para o mesmo grupo que já estava mais calmo até o restinho da tarde. Enquanto isso, Cid trabalhava pacientemente com algumas coordenadoras na Casa dos Professores afim de que elas aproveitassem melhor a internet como ferramenta de  busca eficiente em seus trabalhos na educação, conforme a solicitação daquele grupo. Mari, Ale e Thiago (com a participação especial do Ismael) novamente trabalharam o assunto sexualidade, mas dessa vez com o grupo de Agentes Mirins. Foi muito divertido o dia de trabalho. Os alunos que participaram da oficina pela manhã, retornaram a tarde (todos). Estavam num total de 25 adolescentes anciosos pelo tema e cheios de vergonha da forma com que estava sendo abordado pela Mariane, sem pudores ou meias-palavras, e até mesmo pelo jeito tímido-"safado" da Alessandra (que se transforma na presença de uma platéia atenta). Vale ressaltar que em nenhum momento a capacitação fugiu do seu objetivo de "formar multiplicadores", portanto toda e qualquer brincadeira e piadas sobre sexo que foi elaborado pela equipe de saúde foi de fundamental importância para a desinibição do grupo de jovens, pois o objetivo era incentivar a questionamentos e eliminar toda e qualquer dúvida. Ao final da tarde, todos os alunos já demonstravam ter pelos "professores" a maior confiança e credibilidade pelo trabalho realizado; isto pôde ser observado pela intensidade de perguntas, dúvidas, afirmações e exemplos dos seus cotidianos. Para finalizar a oficina, no início da noite, Mari e Ale terminaram com uma atividade no calçadão, ao menos tentaram. Infelizmente a chuva não deixou que os novos agentes mirins de Canaã pudessem colocar os cartazes no coreto da Cidade. Apesar de esta prática ser pré-requisito para a conclusão do curso, todos os alunos receberam os seus certificados referentes ao dia de treinamento, bem como os demais materiais referentes ao projeto. Enquanto isso, às 17h00, Ismael e Thiago iniciavam a parte prática do curso de Primeiros Socorros para as técnicas de enfermagem. Terminado o curso, algumas das alunas insistiram para que eles ensinassem técnicas para afogamentos, incluindo prática de respiração boca-a-boca... Os dois, educadamente, se saíram muito bem... pela tangente. Esse dia valeu por todo o cansaço da semana, pois os abraços de agradecimentos e de carinho que recebemos desses Agentes Mirins na despedida na Praça serão eternizados em nossas boas lembranças. Em virtude da chuva, o Cinema da Praça foi cancelado. Mas o esforço da Lorena em conseguir o filme "Duplex" em parceria com a Locadora FOX (ou seja, locar sem cadastro... e sem pagar) foi válido. Parabéns a Lorena!! A noite os meninos, então, foram visitar junto com o Conselho Tutelar a parte da cidade em que se encontram as profissionais do sexo, com o objetivo de observar a forma como adolescentes de 15-16 anos se comportam diante de uma realidade não tão distante para nós. De acordo com o Thiago, ele "não imaginava que Canaã tinha um lugar tão atribuído para essa prática" e que com certeza não acreditaria se não tivesse visto por si mesmo. Para finalizar, os meninos participaram da inauguração de um restaurante da cidade, a convite do Leonardo, enquanto que Ale, Mari e Cid, ficaram na Casa do Professor para colocar este diário em dia, literalmente, e assistir a um filme extremamente chato.

   

2/fev (sexta-feira) De madrugada, muita chuva novamente, e forte. Com isso nossos andarilhos matutinos ficaram dormindo. Só o tenente que foi correr com chuva mesmo. Às 7h00 Cid bateu em todos os quartos para que todos estivessem prontos às 8h00 quando deveria sair o ônibus que levou as duas equipes para conhecer a mina de cobre da Vale do Rio Doce que fica aqui no município de Canaã. Antes das 8h00 estávamos todos prontos mas, é claro, o ônibus chegou atrasado e o atrapalho da saída foi inevitável, com os alunos dentro do ônibus sem saber o que estava acontecendo. Mas às 8h40 o ônibus saiu do hotel com os sete alunos da UFPR e a equipe de Ilhéus. Cid ficou para publicar o diário, resolver os últimos problemas na prefeitura e tentar acertar uma entrevista na Rádio Cidade no programa do Carlos Magno para despedir, em nome do grupo, da cidade. Nossos trabalhos praticamente se encerraram ontem. Hoje, depois que o grupo voltar da visita à mina teremos apenas que acertar os últimos certificados dos cursos da área da saúde, entregar os últimos materiais ainda disponíveis e nos preparar para nosso programa na rádio às 18h00, programa de despedida. Dessa forma, terminamos nosso Diário de Bordo aqui, pois não teremos outra oportunidade de atualizar esta página depois de hoje. Amanhã saímos cedo, de ônibus fretado, para Marabá onde à tarde teremos a reunião de avaliação e à noite o jantar e festa de encerramento da Operação 2007 do Projeto Rondon. Agradecemos todos os que acompanharam nossos trabalhos nesta página e esperamos, com nossa atuação aqui em Canaã dos Carajás, ter contribuído um pouco no crescimento do nosso país através da melhoria da educação das crianças deste município, pelo que pudemos ensinar na área de saúde desde a prevenção de doenças, especialmente DST e AIDS até o curso de Primeiros Socorros, de poder ajudar na diminuição do número de adolescentes grávidas e de poder colaborar com o Conselho Tutelar mostrando que deve haver uma parceria grande entre os conselheiros, os professores e as entidades que trabalham com crianças em Canaã dos Carajás. Foi uma experiência rica, única, e que ficará na memória de todos nós.
3/fev (sábado)
  • Retorno dos rondonistas para Marabá, às 8h00, em ônibus fretado pelo Projeto Rondon

  • Em Marabá, reuniões de avaliação no período da tarde e encerramento do Projeto Rondon 2007 à noite

4/fev (domingo)
  • Retorno de Marabá para Brasília e, depois para Curitiba, saindo 18h15 de Brasília e chegada em Curitiba às 20h00

 

 

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